Im-prensa (Um conto)
Por Jeison Karnal
Um novo atentado de homem-bomba no Iraque preencheria a secundária da página nove.
Era próximo das dez horas, e o editor aguardava o texto que deveria ser espremido e engarrafado a tempo. O HD mastigava o que o jovem redator oferecia, não sem roncar zangado, engolindo frases truncadas e termos levianos. As informações sobre o número de vítimas seguiam desencontradas. Algumas agências divulgavam trinta mortos, outras quarenta.
De acordo com a FP, o local da tragédia, teria sido um café clandestino onde soldados norte-americanos aproveitavam as horas de folga para esquecer os caprichos da Casa Branca. Já a AE, apontava um pequeno supermercado de Bagdá.
Ninguém na redação faria uma ligação para o Oriente Médio. Fossem trinta ou quarenta mortos, fosse o local um circo ou um estábulo. Um jornal pequeno tampouco mandaria um correspondente para saber o número certo. A alternativa poderia ser contatar a France Presse, mas a desculpa seria de que ninguém falava francês ou inglês.
Outra possibilidade teria sido telefonar para o Estadão, contudo, nenhum repórter teria a cara-de-pau de ligar e perguntar: “Ei, amigo, afinal, foram trinta ou quarenta? Estava tentando saquear o site de vocês e fiquei confuso”. Ainda existe ainda algum orgulho na profissão. Copia-se, claro. Sem revelar as fontes.
Tempo é emprego
Falou à própria consciência o periodista iniciante: "Aquela era apenas uma matéria de pé de página. Uma modalidade de terror daquelas não causaria nem enjôo nos leitores, tamanha falta de ineditismo". Sim... Tempo é “emprego” na imprensa mercantilista, resmungou.
Entregou-a assim mesmo: Homem-Bomba Mata 35 no Iraque. Meio termo.
Pelo menos até o próximo round ético.
Um novo atentado de homem-bomba no Iraque preencheria a secundária da página nove.
Era próximo das dez horas, e o editor aguardava o texto que deveria ser espremido e engarrafado a tempo. O HD mastigava o que o jovem redator oferecia, não sem roncar zangado, engolindo frases truncadas e termos levianos. As informações sobre o número de vítimas seguiam desencontradas. Algumas agências divulgavam trinta mortos, outras quarenta.
De acordo com a FP, o local da tragédia, teria sido um café clandestino onde soldados norte-americanos aproveitavam as horas de folga para esquecer os caprichos da Casa Branca. Já a AE, apontava um pequeno supermercado de Bagdá.
Ninguém na redação faria uma ligação para o Oriente Médio. Fossem trinta ou quarenta mortos, fosse o local um circo ou um estábulo. Um jornal pequeno tampouco mandaria um correspondente para saber o número certo. A alternativa poderia ser contatar a France Presse, mas a desculpa seria de que ninguém falava francês ou inglês.
Outra possibilidade teria sido telefonar para o Estadão, contudo, nenhum repórter teria a cara-de-pau de ligar e perguntar: “Ei, amigo, afinal, foram trinta ou quarenta? Estava tentando saquear o site de vocês e fiquei confuso”. Ainda existe ainda algum orgulho na profissão. Copia-se, claro. Sem revelar as fontes.
Tempo é emprego
Falou à própria consciência o periodista iniciante: "Aquela era apenas uma matéria de pé de página. Uma modalidade de terror daquelas não causaria nem enjôo nos leitores, tamanha falta de ineditismo". Sim... Tempo é “emprego” na imprensa mercantilista, resmungou.
Entregou-a assim mesmo: Homem-Bomba Mata 35 no Iraque. Meio termo.
Pelo menos até o próximo round ético.
1 Comentários:
Qualquer semelhança é mera coincidência entao, hehehe...show de bola, parabéns! Abs
Por Leandro Luz, Às outubro 19, 2006 4:37 PM
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