A última andança de Lula

Foto: Roni Rigon, Agência RBS/ZH


Sabe aquelas pessoas que são invisíveis? Aquelas que o Estado desconhece e, tantas vezes, criminaliza? O mendigo Paulo Roberto Borges Mathias, 48 anos, era uma dessas pessoas. Conhecido por Lula, vide a barba, perambulava pelsa ruas de Caxias do Sul até a morte, ontem pela manhã.


Atitude quase inédita. A ZH de hoje publica um breve perfil do mendigo. História comum e triste. Pelo menos, Lula teve direito a um padre e a um caixão. E um terno azul (roupa que nunca usou em vida). A foto em um jornal, o Lula caxiense só conseguiu porque Deus quis...

Segue o obituário:

"Sem família nem dinheiro, o mendigo Paulo Roberto Borges Mathias, 48 anos, será sepultado hoje, às 9h, em uma gaveta do Cemitério Público Municipal de Caxias do Sul.


Estarão presentes um padre, um pedreiro e uma dezena de vizinhos que bancaram R$ 450 para que houvesse um velório na capela C da Funerária São José. Não fosse a mobilização, Paulinho, ou Lula, como era conhecido, seria enterrado ontem sem ao menos uma bênção.

– Uma cerimônia normal é o mínimo que podemos fazer. O Lula nunca fez mal a ninguém – diz Sérgio Potighione, 50 anos, que encabeçou a arrecadação do dinheiro.

Lula ganhou um caixão preto, terno e gravata azuis-marinhos, camisa azul-clara e meias, pagos pela Fundação de Assistência Social (FAS). Em vida, ele nunca usou roupa igual. Moradores da Rua Marechal Floriano, no Centro, sempre o viram perambulando de camiseta, calça arregaçada e chinelo.

Ele foi encontrado morto na manhã de ontem por assistentes sociais da FAS, que o levariam para uma consulta na unidade básica de Saúde do bairro Cinqüentenário.

Havia mais de 30 anos, Lula ocupava a casa número 1.221, na Marechal Floriano, abandonada pelos proprietários. O Departamento Médico Legal constatou que Lula teve morte súbita, na madrugada de ontem, com causa indeterminada. Um exame clínico apontou que o mendigo tinha edema pulmonar, e nenhuma lesão por violência foi constatada."