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sexta-feira, dezembro 02, 2005

Quando o reconhecimento não é aceitação

TV Cultura de São Paulo investe na formação do telespectador

O Guia de Princípios da TV Cultura foi lançado ontem, em São Paulo,e se propõe a discutir a essência do jornalismo público. Diferente do jornalismo comunitário dos EUA, nos anos Reagan, o público pretende transformar criticamente a audiência, formando mentes para uma cidadania plena.

As informações podem, sim, usar do recurso e da leveza do entretenimento, mas não poderão abandonar o aprofundamento. O presidente da Fundação Padre Anchieta explica o posicionamento de uma televisão assim: “Qualidade não é o que a audiência diz que é qualidade. Qualidade é tudo aquilo que promove a elevação do ser humano em suas programações.”

Por ser uma emissora pública, a Cultura não precisa sucumbir aos anseios do mercado e pode exercer uma função pública. Nem sempre o produto que vende é bom, a tal “repetição se transformando em reconhecimento e o reconhecimento em aceitação”, como disse o teórico Adorno.

A industrialização do jornalismo é considerada danosa, pois veio enquadrar o mundo nos valores-notícia. A notícia de um navio que se desloca por anos não tem valor até que o mesmo afunde. Nessa linha de pensamento é possível concluir que o espetaculoso é o que gera lucro. O jornalismo público, ainda que pareça utópico, dá ênfase para os temas relevantes socialmente e não a fatos que seduzam o espectador por instantes.

O Guia de Princípios da TV Cultura vira de cabeça para baixo as receitas vigentes na grande mídia. Engajado e responsável, privilegia a formação do cidadão, quebrando o círculo vicioso entre produtor e receptor.


Cães na coleira
Falar de governo é sempre perigoso, na medida que pode remeter a um jornalismo acrítico. Na filosofia da emissora paulista, a cobertura política está é estigmatizada. Corrupção, crise e sensacionalismo têm todo o espaço, enquanto as ações relevantes do Estado são noticiadas pontualmente. As ações políticas que podem atingir o telespectador não têm poder mobilizatório, aos olhos dos cães de guarda da mídia (para quem falar do governo é se render ao sistema).

Um telespectador que exerça seu papel social, que possa reivindicar a partir do que assiste é o que a nova TV pretende. A ética dos jornalistas é posta à prova e as objeções aparecem: as partes envolvidas no processo são estimuladas, enfim.